Muitas crianças apresentam dificuldade ao ler, escrever e soletrar. Trocar letras como V e F, D e T ou P e B é comum em algumas idades, mas pode apresentar sinais de dislexia, uma disfunção frequente e ainda pouco conhecida pelos pais e educadores. De acordo com a Associação Brasileira de Dislexia, o transtorno acomete, em algum grau, até 17% da população mundial, pode manifestar-se em pessoas com inteligência normal ou mesmo superior e persistir na vida adulta.
O que é Dislexia?
A dislexia afeta a capacidade de extração de conteúdo pela leitura e mesmo a síntese de ideia pela escrita. Os portadores dessa dificuldade não conseguem associar adequadamente os fonemas às letras. De acordo com o neurologista formado pela Universidade de São Paulo, Leandro Teles (leandroteles.com.br) (CRM 124.984), a dislexia pode ter determinantes genéticos.
“A predisposição a dislexia está provavelmente impressa nos cromossomos. A chance do filho de um disléxico desenvolver a doença gira em torno de 40 % em alguns estudos, gêmeos idênticos (univitelinos) tem altas taxas de diagnóstico e essas taxas são bem superiores a de gêmeos não idênticos (bivitelinos), tudo isso demonstra que o componente genético é muito relevante. Vários genes estão sendo estudados como possíveis geradores da disfunção”, explica o neurologista. É importante lembrar que a dislexia não significa desatenção, falta de motivação, baixa inteligência ou problemas emocionais.
Segundo o médico, s dislexia é o distúrbio muito comum, sendo o principal diagnóstico associado ao baixo rendimento escolar. De modo geral, ela acomete entre 5% a 17% da população mundial, um pouco mais de meninos em relação às meninas. “A doença existe em todos os continentes e sociedades que utilizam a escrita. É uma disfunção que perdura em algum grau por toda a vida, então crianças disléxicas tornam-se adultos disléxicos. É fundamental o diagnóstico precoce e o tratamento direcionado para que a pessoa atinja todo seu potencial escolar e profissional”, afirma Leandro Teles.
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Índice
Fique atenta aos sinais da dislexia
A criança com dislexia apresenta dificuldade na leitura desde a alfabetização. Alguns indicadores são a tendência a trocar letras, inverter sílabas e esquecer letras ou palavras nas frases. O neurologista diz ainda que a compreensão das crianças disléxicas é dificultosa e geralmente subtotal. “A disfunção impregna também a escrita, a forma das letras e eventualmente até a capacidade de elaborar cálculos matemáticos e de fixar a matéria. É importante frisar que deve-se sempre afastar outros problemas que possam estar mimetizando a dislexia, como problemas de visão, audição, déficit de atenção e mesmo problemas intelectuais ou emocionais.”
Nem toda criança com dificuldade para ler e escrever é disléxica
“Mas certamente todo o disléxico tem dificuldades para leitura, em algum grau”, afirma Leandro Teles. Por isso a dislexia é um diagnóstico de exceção, é preciso ter clareza de que não há outro distúrbio sensorial ou mental que justifique a dificuldade escolar. Outra questão é a própria inadequação do método de ensino em algumas situações. Por isso, o diagnóstico deve ser cauteloso e deve ser realizado com profissionais habilitados para tal.
Segundo o neurologista, é possível perceber dificuldades no desenvolvimento da fala em criança disléxicas pré-escolares. A compreensão está geralmente perfeita, assim como a interação e a inteligência, mas os erros e distorções fonêmicas ocorrem com intensidade maior. Se essa dificuldade estiver associado a história familiar positiva para dislexia, o diagnóstico futuro torna-se muito provável. Neste contexto é possível delimitar crianças “em risco” e desenvolver medidas a partir de cinco ou seis anos de idade.
Dislexia e inteligência
A dislexia é uma disfunção de determinados pontos da linguagem. A inteligência é um produto cognitivo complexo que engloba muitos outros domínios. O médico Leandro Teles explica que, de modo geral, o disléxico tem inteligência normal e alguns até acima da media. São crianças criativas, emocionalmente adequadas, com raciocínio rápido e cheias de estratégias para driblar as dificuldades da dislexia. “Existem inúmeras personalidades intelectuais, cientistas, professores e inventores com dificuldade de leitura e escrita, sendo que isso não os impediu de dar sua contribuição a toda sociedade.”
A disfunção afeta o hemisfério dominante para a linguagem, na grande maioria das vezes o hemisfério esquerdo. A região responsável pela integração da leitura fica na região mais posterior conhecida como junção têmporo-parieto-occipital (pois existem conexões desses três lobos). Por fora da cabeça encontramos essa região um pouco atrás e acima da orelha esquerda.
Diagnóstico da Dislexia
O neurologista afirma que a dislexia não é diagnosticada com exames de sangue e nem com tomografia ou ressonância. “O diagnóstico aflora de uma consulta clínica direcionada e com testes de linguagem. Importante re-enfatizar que é fundamental excluir dificuldades sensoriais (dificuldade para enxergar ou ouvir, por exemplo) e mesmo outras doenças cerebrais que possam justificar melhor a dificuldade da utilização da linguagem. É também fundamental diferenciar a dislexia dos transtornos transitórios do aprendizado e mesmo das dificuldades referentes a má aplicação do método escolar.”
O próprio pediatra que acompanha regularmente a criança pode, diante das queixas maternas, iniciar a investigação de dislexia. Em casos complexos é fundamental a participação do neuropediatra e de profissionais da área de fonoaudiologia e psicopedagogia.
Os pais devem estar atentos para o desenvolvimento da linguagem e a alfabetização da criança. Caso reconheçam alguma dificuldade o médico da criança deverá ser imediatamente comunicado. Uma linha de tratamento deverá ser traçada e seguida em busca da otimização do resultado escolar.
“Da mesma forma que é importante diagnosticar a dislexia é importante que não haja estigmatização da criança e nem superproteção. A criança deve ser encorajada a superar suas dificuldades e deve receber o mesmo tratamento afetivo e social de qualquer outra criança sem dislexia”, afirma o médico.
Tratamento da Dislexia
A dislexia deve ser tratada com intervenções psicopedagógicas e fonoaudiológicas. Nenhum método de reabilitação é totalmente eficaz, por isso a linha deve ser escolhida caso a caso. “A meta não é a cura, uma vez que a dislexia é um distúrbio crônico e persiste, em algum grau, até a idade adulta. Quanto antes for instituída a terapêutica, melhor será o resultado final em termos escolares e profissionais. Dar sempre preferência aos métodos multissensoriais e com embasamento científico”, conta Leandro Teles.